terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Nada tenho


Não tenho passado
Não tenho presente
Também no futuro
Sou muito descrente!...

Não tenho fortuna
Não tenho alegria
Até meus versos
Não têm poesia

Enfim, nada tenho
Não tenho, não vê?
Nada possuo
Pois não tenho você

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mares & Maresia - Parte I


- Içar âncoras marujos, hoje nós vamos pescar marlins. – Dizia o tresloucado capitão da embarcação.
- Mas capitão, nós só pescamos atuns, marlins são muito grandes para o nosso pequeno barco. – Um marinheiro retrucava.
- O preço do atum está em crise no mercado. A oferta aumentou muito. Hoje vai ser marlins e está decidido. E você, qual seu nome? Vá já preparar as redes.
- Laucion senhor! Esse é meu nome.
- Ninguém perguntou, faça o que eu mandei somente, estamos em alto-mar e todos têm que colaborar.
- Está certo, capitão. – Dizia Laucion meio confuso e se perguntando até que ponto ia a esclerose do chefe.
- Capitão, as redes estão prontas, mas a âncora ainda está no fundo. – Um marinheiro avisava.
- O que importa, faça o que eu mandei, jogue as redes no mar, hoje vai ser dia de marlim! Quem pegar atum, limpará os banheiros!
O dia foi bom, marlins não paravam de aparecer, ninguém foi forçado a limpar banheiros e quase ninguém percebeu a noite cair de alturas impossíveis sobre o paquete ancorado em alto-mar:
- Amanhã, senhores, será mais um dia, pescaremos mais marlins, quero ver esse barco transbordando. – O capitão avisava.
- Capitão, o barco já está cheio, – Um marinheiro alertava – seria mais prudente nós voltarmos amanhã.
- Não me contradiga marujo, ou por acaso, queres limpar banheiro? Eu estou no comando e digo que cabe mais marlins nesse barco.
Laucion refletia até que ponto o poder corrompia o homem, mas estava muito cansado para pensar mais profundamente. Encostou a cabeça no travesseiro e apagou.
- Acordem, acordem, seus imprestáveis, é hora de trabalhar. – Amanheceu e, pelo visto, o capitão era o primeiro a estar de pé, facilmente comprovado pelo seu mau humor.
Foi mais um dia de pesca de marlim:
- Vamos, vamos, içar mais essa rede. – Um marinheiro repetia. – Ah! Finalmente conseguimos mais uma.
No exato momento em que a rede tocou o chão do navio, uma grande viração foi sentida e no instante seguinte um estrondo foi ouvido. Dos porões do barco outro marinheiro saia correndo:
- Capitão, capitão! O chão do porão cedeu devido ao excesso de peso, vamos afundar!
- O quê? Estamos perdendo toda a pesca do dia! – A antipatia do capitão para encarar os fatos era sinistra.
- O que faremos? – Um outro marinheiro perguntava.
O capitão nada respondia.
- Desçam os botes, desçam os botes! – Todos gritavam. Numa hora dessas, obviamente, era o mais sensato a se fazer.
Vários marinheiros abandonavam o barco em botes salva-vidas, o capitão mareado, nada fazia, olhava-se em êxtase e dizia: “Peguem mais marlins, peguem mais marlins.” A água não dava trégua e Laucion não encontrava nada para se salvar. Não havia mais botes ou bóias. O barco começou a se curvar e toda popa já estava embaixo d’água. Não demoraria muito para a proa também ceder aos encantos do fundo do mar. Alguns marinheiros se jogavam para a morte. “A fórmula química da água é H2O.” Alguns gritavam para os corajosos e estouvados que se alçavam para o afogamento, do que adiantaria saber? Laucion, desesperado, queria ficar no barco até o último segundo possível. O capitão, percebendo o inevitável, preferia afundar com o barco. E assim foi feito. Laucion nadava, agora, sozinho em alto-mar, tentando alcançar um alabastro que estava a poucos metros dele, para tornar jangada, enquanto avistava O Pescador ir a pique sem dó nem piedade pela febre da ganância e pela falta de humildade, um reflexo apocalíptico da sociedade?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Inauguração


Tenho medo da descoberta tardia
Pois sei que quando verdadeira
não a chamaria desse modo.
Sentar-me-ia com ela
ao lado de uma lareira
conversaríamos alegres e felizes
com a mais nova amizade
que não importa a idade
tardia a descoberta
deixa de ser realidade