segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O ESBANJAR DE DÚVIDAS




ATÉ QUE PONTO O PONTO?

ATÉ QUE PONTO O CONTO?

ATÉ QUE PONTO O FALE?

ATÉ QUE PONTO O CALE?

ATÉ QUE PONTO O NERVOSO FEIXE?

ATÉ QUE PONTO O GENIOSO DEIXE?



ATÉ QUE PONTO, VALHO?

ATÉ QUE PONTO, FALHO?

ATÉ QUE PONTO, ESPREITO?

ATÉ QUE PONTO, DEITO?

ATÉ QUE PONTO, AMALDIÇOO?

E ATÉ QUE PONTO, ABENÇOO?





ATÉ QUE O MUNDO PARE

ATÉ QUE O MUNDO PIRE



ATÉ QUE O MUNDO PAIRE

ALITERAÇÃO ASSONANTE



Alfabeto apreende, a ascensão assim atenta
a alma alerta, alvo acerto, a alegria atormenta
amnésia aumenta, a autonomia agora acena
ataco aliviado as afirmações, Atena
alienígena aproximando-se, avisto abalos
ausento-me, assim até afastá-los
ameaçá-los? As atenções apontam aqui
apresento-me a altura, apenas agredi
afortunados, alienados, arrasados
asas acorrentadas, assuntos acabados
andorinhas assustadas avistam albatrozes alvoroçados
amaldiçoo as aparência
agregam atitudes aguardando a advertência
acidentes acontecem, ascendem após a aurora
atmosfera afora a audacidade aprimora
apavoram atividades afetivas, ativas
ânimo ascendente, ações atrativas
aliviado, atrapalhado, até anormal
Ás amável, atencioso, alto-astral
atraio avalanches, atiro álcool alado
atentado às aventuras, apelo agravado
achei algo atrapalhado, abatido, aguardem
assunto aclamado, aspiro, agulhas ardem

LAMPEJOS DE SABEDORIA




... e dizia o cartaz: “Compro ar, se é puro pago muito mais”. O que em outros tempos era inimaginável, agora era a triste sina daquelas pessoas que viviam na cidade, numa cidade que consome toda velhice possível e que com toda sua gente e todo seu barulho não podia evitar toda a fumaça que a contaminava. Entretanto, por mais incrível que pareça, aquele povo seguia crescendo, o carbono seguia fazendo parte de suas moléculas.

Eu era um carbono, que apesar de toda a catástrofe ao redor, não tolerava a falta de fé, não permitia que ninguém baixasse os braços, que perdessem a lucidez. E com esse espírito eu escrevia e escrevia palavras cegas, certo de que elas iriam atingir os ouvidos dos entorpecidos, como uma bomba que explode nos calçadões sujos da cidade. Escrevia um líquido inflamável, pior que gasolina, que consumia rapidamente os desvarios das praças centenárias, onde bêbados e drogados cantavam a sinfonia dos desvalidos. Escrevia em espasmos no intervalo invisível entre o ser e a pálpebra dum minuto. Escrevia no espaço frenético jacente na alma torta dos combatentes de pena e nanquim. Escrevia aquilo que poderia se tornar o hino dos mudos, dos loucos desvairados em sanatórios imundos ou das prostitutas que andam pela vida num eterno se dar. Eu, simplesmente, não podia parar de escrever, não tinha como. A crua realidade, lá fora, de respirar fuligem e chorar alcatrão contaminava meus pulmões, mas essa triste impureza gasosa não chegaria a meu sangue, nunca chegaria... Antes disso, escapar-me-ia do cheiro repugnante, sairia voando por aí, silvando, sem medo e sem rancor.

Eu escrevia e assim começava a envelhecer. Suando esta verdade, escrevia mais e mais, enquanto o chorume corria pelas veias dos habitantes. Escrevia a gilete, no tampo da mesa de um bar os desatinos que a paixão propicia e que ali se encerram e se descortinam. Escrevia com sangue, com o fervor dos suicidas, palavras que ecoariam alto nos breus e se dissipariam nos canos de descarga dos coletivos suburbanos; para, depois serem inaladas pelas ratazanas do esgoto mais próximo.

Eu escrevia, escrevia o espasmo de dor e alegria do poeta que morre ante a pulsação medíocre da cidade putrefeita em lodo e gás tóxico, mas sem perder a esperança.