sexta-feira, 26 de abril de 2013

DEZ DIAS



Dez dias, que já são nove, que já são oito... Falta pouco, muito pouco, cada vez menos! Jamais um sonho esteve tão próximo da realidade neste estranho mundo inflamável que queima as esperanças ao nosso redor sem fazer serão. Que venha em paz o que o voo da borboleta trouxer! O tique-taque do relógio não me enfada mais. Ele é o sinal mais claro que meu sonho está chegando para acalentar meus rústicos desejos e embalar minha existência. Falta pouco! Falta pouco para que eu exploda de felicidade. Falta pouco para que esta melancólica saudade seja arrancada de meu peito e eu possa, enfim, sentir novamente, nem que seja só por breves instantes, a calidez de teu fulgor célico. Falta pouco para que eu viva bem ao lado de tua mágica inocência, que ao mesmo tempo sabe ser bela e voraz, os mais afetuosos momentos. Assim, respiro e sofro, alimento esta ânsia incoercível por dias melhores, esperando tua rutilância transcendental, capaz de derrubar barreiras de língua e de distância, de tombar o mais forte Hércules intolerante e de pôr fim a batalha improfícua entre o dia de hoje e o dia de amanhã. Sabes por quê? Porque a teu lado, meu doce sonho, não haverá tempo. O moinho, no qual gira as pás e esfarela, de grão em grão, a juventude entre nossos dedos renunciará a seu posto. O amanhã será ontem e o ontem será amanhã. As noites frias se mesclarão com as tardes quentes, interesses díspares se fundirão em aço vivo, e eu não serei mais ímpar. A síntese de todo esse processo será a diluição, em conta-gotas, do tempo e do espaço rúptil, da gravidade, do gelo, da pampa e da montanha em água, água salgada e areia; em praia! Seremos praia perdida e deserta em meio à multidão de uma ilha caótica e confusa que não sabe se é grande ou pequena. Assim, derreteremos tudo que é torpe e ergueremos tudo que está caído e povoaremos tudo que está abandonado. Destarte, nosso amor sobrepujará toda pós-modernidade e seguirá sendo romântico, surreal e simbolista! O impossível já não resistirá ao clamor das massas sedentas e sucumbirá perante seus próprios pressupostos absurdos e tudo será novo novamente; vamos nos entreter em infinitas primeiras vezes para sempre! A madeira, essa opaca e pura substância, refletirá a luz em diversos feixes multicoloridos e luzirá entre os clarões do monocromático mundo real; será o guia e o sinal que as borboletas precisam para decretar o fim de seu expediente. O trabalho incansável delas, de ir e vir, de serem a mensageira de nosso amor, não será mais necessário. Agora, elas poderão descansar, poderão decorar o mundo com a beleza de suas asas e pousar nos sublimes éteres que escaparão da alva espuma do mar. Contudo... Enquanto isso não acontece, menina, eu aprendo a lidar com a ansiedade. Sinto cada segundo passar e me alegro, porque sei que estás cada vez mais perto. Assim, apaixono-me mais, espero-te, desejo-te, amo-te de longe com a maior das felicidades, ainda que, às vezes, possa parecer uma tortura, por mais paradoxal que transpareça, não o é. É uma maneira de ver como eu te gosto de verdade, necessito-te e, sobretudo, amo-te com uma intensidade inigualável. E só dessa forma, percebo o quão especial tu és para mim, a ponto de fazer todo o sofrimento e desesperação valer a pena; e ser, de fato, felicidade. Sou a pessoa mais feliz do mundo, menina, trato bem as borboletas e conto o tempo para te ver. Conto o tempo na batida do meu coração sôfrego. Deve ser por isso que ele bate mais rápido toda vez que te vê numa foto ou num vídeo. Ele sente de que alguma maneira tu estás mais próximo e tenta compensar este descompasso entre o tempo que falta para chegares e a aparente proximidade que pareces estar. Tu, na internet, confundes meu coração e me provocas arritmia, a melhor das arritmias... Mas é assim que te espero, arriscando minha vida, menina bonita, para que logo mais possamos viver esse Eros anacrônico nas praias de uma ilha ambígua, porque tu és esse meu Eros anacrônico que sempre busquei, amor mío. Contigo, o céu jamais rachará sob nossos pés.