sábado, 29 de dezembro de 2012

VOCÊ E EU



Nós somos nós.

E eles tão sós como nós, não são nós

Porque você e eu já nos entrelaçamos,

Unimo-nos de forma irreversível

E construímos nossos NÓS de nós.



Destarte, eles não podem ser nós, repito.

Nós que somos nós

e só nós!



Entretanto, sei que estou preso

Nesta língua atroz que não permite o impossível!
E já que não tenho mais pronomes para empós

Creio que só resta inventar um

Que será somente seu e meu.

Por acaso você já ouviu falar no:

Voceu?

EU E VOCÊ


De dia, penso em você.
De noite, penso em você.
De manhã, penso em você.
De madrugada, penso em você.

Penso em você até quando não estou pensando em você
Porque você não é mais pensamento, você sou eu e eu sou você.
Assim, não é mais possível pensar em mim. Se eu sou você e você sou eu
Meu pensamento é você.
Entendeu?

domingo, 8 de abril de 2012

RECEITA POLIFÔNICA

Várias vozes ecoam em súbita sintonia
Elas são fortes, nenhuma a se sobrepor
Dá uma nova arte, onde cada um é cantor
São notas poderosas que temperam poesia

Misturam-se fonemas e salpicam ousadia
Eloquentemente a reinventar outro sabor
Protagonizando o despertar desse torpor:
Esta é a magia da apimentada polifonia

Que para mudar a nossa universidade
Essencial quebrar com a verticalidade
E ultrapassar o limite nos imposto

Jamais ficar só na retórica da luta
Já que movimento bom faz e executa
Pois fazer sentido é o pressuposto

METEOROLOGIA

As tuas mudanças climáticas

Afetaram minha natureza,

Devastada e poluída,

Minha cabeça esquenta muito mais

Hoje em dia,

Derretendo a poesia,

Em sangue

Suor

E sal,

Por causa do aquecimento mental.

® Evolução


Gritos do além, paranóias passadas

Alucinação, incinere a razão

Torturas, questões,

Simples idéias te queimarão

Resignação encaminhou

Estado médio tempo


Jovens sábios, iluminação,

Caminhos em questão,

Velhas trevas em contradição,

Sabedoria e compreensão...

Demônios, duendes, anjos.


De repente seres anos-luz, daqui, aqui!


Mistérios no céu

Incoerência à nação

Revolta e volta à discussão

(R)Evolução?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

ADEUS*


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Há um ano surgia a gestão Integração. Todos aqui estavam conscientes dos desafios que se sucederiam no ano de 2011, mas a realidade dos fatos se mostrou muito mais aquém de qualquer análise que poderia ser feita, assim tivemos que nos superar dia após dia: foram várias noites em claro escrevendo textos, foram reuniões intermináveis toda segunda-feira, duas recepções do C6 que nos consumiram bastante, uma SAECO impecável, uma Oikos extraordinária, incontáveis passagens em salas muito boas; outras, nem tanto. Mas acima de tudo, conseguimos imprimir nossa marca, conseguimos deixar nosso legado. Cumprimos nossos princípios. Acertamos muitas vezes; algumas vezes erramos, mas se erramos, foi tentando fazer o melhor. Autocrítica e paciência para reconstruir tudo que estava dando errado do zero não nos faltou, e que autocrítica tivemos!


E nesse emaranhado uma palavra se destaca e nos define, define nosso grupo, define nossa unidade: MELHOR, sempre demos nosso melhor, porque isso é o mínimo que poderíamos oferecer, já que amamos esse curso e não nos contentamos em somente cursá-lo, nós queremos transformá-lo, lutar por um novo conceito de universidade e para isto tivemos que reescrever o alfabeto, um alfabeto que foi reescrito a cada dia e ele é mais ou menos assim:

B de Brilhante, B de Bruno, B de Bombástico!

O D de Debate, o D de Discussão imprescindível na construção de um Centro Acadêmico livre e aberto a todos é o mesmo D que nos faz Duvidar do que é “certo” e é o D de Dani, Daniel!

O J de Juventude é o protagonismo estudantil encerrado na jovialidade, o motor transformador do mundo, também é o J de João e Josué!

O L de Louco também é o L de Lucidez: duas palavras antagônicas que encontraram uma harmonia incrível em nossas mãos; também é o L de Luciano e o L de Lealdade que nos torna um só.

O M de Movimento, e o M que não nos permite ficar parado diante dos absurdos, O M de Ação, por que, não? O M que Mantém a entidade viva, O M de Maicon!

O T de Tolerância, de Titânico, de Titanic que não afunda, de... Ternura é o mesmo T de Tomás, Tamara, Tainam, Tales!

O V, ah o V! O V de Vitória, vitória no corte de vagas, na SAECO, na Oikos, na avaliação, é o V da Vibração Latina, é o V de Victor!

Reescrito o alfabeto, com todas essas letras e significações, elas trocam experiências, partilham ideias e se permutam em centenas de palavras. E a partir disso, do V, do J, do M, do T obtém-se algo novo, mas umbilicalmente ligado a sua origem e sua essência, de modo que eliminar uma letra é perder uma voz, um pedaço de si, um agente construtor daquilo que se condensa em C-A-L-E gestão Integração. Somos mais que onze, somos um!


*texto de despedida da Gestão Integração, do CALE

GUERRA


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Quando eu piso no palco, sou vertigem indiscreta
Sou o ungüento das bruxas que vieram de Creta
Roubo a força do zumbi
Pra depois me tornar um colibri
Que se alimenta de sangue, dane-se o pólen...
Eu to perdido nesse mangue, só os vampiros não morrem
Eles são imortais, como o ar que eu respiro, inspiro
Pra depois dar tiros fatais em homens, mulheras, panteras, hienas, anús
Os crimes que vou cometer, nem a ciência forense conseguirá resolver
Muito menos aquela bruxa cretense que expira e regurgita as almas renegadas por Deus
Seu filho morreu pregado na cruz, o teu vai escapar porque é plebeu
Encontrará a luz no meu corpo entregado ao Arlequim
Que o tinge com caos com tinta de nanquim
Dilacera em várias partes, fazendo um outro tipo de arte
Alimentando a platéia com ossos de cristais
É como se eles fossem canibais
É carne cruel, virulenta
Digerida de forma muito lenta
A arena ferve, todos se servem
Do aval da loucura à alforria da lucidez
Tentando ter postura pra fingir a embriaguez
De repente a cortina se fecha, estão jogando rosas a meus pés
Sessenta mil pessoas idolatrando algum tipo de fé

E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...

Alguém se sentirá traído
Ao ver o dilacerar no palco
E o sorriso do Arlequim com o rosto pintado de talco
O fará perceber seus males etéreos, e suas pestes cinzentas profundas
Que em seu corpo circunda
Ele procura a cura
Em alguma droga muito pura
Talvez, dormir seja a única solução
Pra se livrar dessa facção
Ou então, tudo não passou de um sonho motriz
Que ele não conseguiu escapar por um triz
Anjos epiléticos flertam o espetáculo esculpido
Por algum infeliz que foi “o” escolhido
Mais cedo ou mais tarde ele será esquecido
Magos intrusos atormentam ainda mais os mais reclusos
Odores na arena, em disposição de um ato
Procurando algum fato na cena
Que o torne livre dessa pena
Tudo é podre e belo, tudo é serpente e cor

E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...

Na arena lilás tudo se purifica
E num momento qualquer o pierrô se edifica
No palco ele se torna maléfico
Na arena o público se enfurece
De repente a vida vira algo fútil
O primeiro corpo cai, a arma no bolso se torna útil
Aqui só há uma saída, temos que revelar
A chacina já começou, só nos resta rezar
Umedecer a figura, sem desejar nenhum pano
É nesse ato que o ser humano se torna tirano
Desdenhado espaço, a alegria do palhaço
Vira tristeza de um descompasso
Ouve-se um estardalhaço
Gargantas explodem, o sangue escorre
O corvo pousa, a carniça ele quer
O pierrô repousa, a carnificina ele requer
O ato em cena se finaliza
A carnificina se concretiza
Facas, AKs, berettas, M-16, granadas e glocks deram o som
Gritos, gemidos, murmúrios, choros, uivos e berros ritmizaram o tom
Morte total, fascínio parcial
Suas chagas agora, fibriladas e sadias, sem nenhum doente
Deixam o corte pra ser bebido eternamente

E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Muros & Grades


Estava dobrando esquinas atrás de esquinas e num momento ele se viu diante do cemitério com muros altíssimos e só o fogo-fátuo dava de notar. Lá, por incrível que pareça, havia uma alma viva; a primeira pessoa que ele via há muito tempo. Era o vigia do cemitério, nada de anormal:

- Esqueça os mortos, rapaz. Eles não levantam mais!

- Não... Só estava passando por aqui, admirando o fogo-fátuo. É um fenômeno interessante, não queria entrar aí.

- São só corpos em decomposição. Não posso deixar ninguém entrar aqui.

- Hum... Mas você não acha tudo isso muito estranho? Olhe, até os mortos vivem encarcerados.

- Não é de se estranhar, rapaz, algumas pessoas tem mais segurança mortas do que vivas. E além do mais, aqui só estão os corpos delas, elas já foram, acabou!

- É, pode ser. Mas será que os mortos voltam à vida quando aparecem em sonhos aos vivos. Eles parecem tão reais e eu há tempos faz que não sei a diferença entre os sonhos e a realidade, o real e o abstrato, entende?

- Hum, entendo... Então eu posso ser apenas alguém de sua mente? ...E quanto a sua primeira pergunta, eu, nos meus dois anos que trabalho aqui, nunca vi um morto levantar e ir invadir o sono de alguém. Eles não levantam mais...

- Verdade – disse com um sorriso tímido.

Aquela conversa com o vigia era um raio de esperança, talvez fosse. Ninguém poderia dizer se tudo aquilo era real ou não. O breve encontro o fez ponderar como é incrível o medo que as pessoas têm de perder o crânio de seus entes queridos. A época de ladrões de tumbas já passou, não faz sentido construírem muros em cemitérios e contratar vigias. O medo nos leva a tudo e, sobretudo, a fantasia. Os muros e grades estão lá, simplesmente, para garantir que morreremos cheios de uma vida tão vazia. Eles nos protegem do nosso próprio mal e de quase tudo, mas quase sempre o quase tudo é quase nada e nada vai nos proteger de uma vida sem sentido; entre cobras e escombros da nossa consistência, vivemos em delírios de ruínas numa vida superficial. Viver assim é um absurdo como tentar o suicídio ou se resignar. Por que levamos tanto tempo para descobrir que não é por aí? Que isso não leva a nada? O que importa?...Agora, ele estava descarregado, pois sabia que até os mortos estão presos e que não poderia estranhar se também estivesse.