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Quando eu piso no palco, sou vertigem indiscreta
Sou o ungüento das bruxas que vieram de Creta
Roubo a força do zumbi
Pra depois me tornar um colibri
Que se alimenta de sangue, dane-se o pólen...
Eu to perdido nesse mangue, só os vampiros não morrem
Eles são imortais, como o ar que eu respiro, inspiro
Pra depois dar tiros fatais em homens, mulheras, panteras, hienas, anús
Os crimes que vou cometer, nem a ciência forense conseguirá resolver
Muito menos aquela bruxa cretense que expira e regurgita as almas renegadas por Deus
Seu filho morreu pregado na cruz, o teu vai escapar porque é plebeu
Encontrará a luz no meu corpo entregado ao Arlequim
Que o tinge com caos com tinta de nanquim
Dilacera em várias partes, fazendo um outro tipo de arte
Alimentando a platéia com ossos de cristais
É como se eles fossem canibais
É carne cruel, virulenta
Digerida de forma muito lenta
A arena ferve, todos se servem
Do aval da loucura à alforria da lucidez
Tentando ter postura pra fingir a embriaguez
De repente a cortina se fecha, estão jogando rosas a meus pés
Sessenta mil pessoas idolatrando algum tipo de fé
E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...
Alguém se sentirá traído
Ao ver o dilacerar no palco
E o sorriso do Arlequim com o rosto pintado de talco
O fará perceber seus males etéreos, e suas pestes cinzentas profundas
Que em seu corpo circunda
Ele procura a cura
Em alguma droga muito pura
Talvez, dormir seja a única solução
Pra se livrar dessa facção
Ou então, tudo não passou de um sonho motriz
Que ele não conseguiu escapar por um triz
Anjos epiléticos flertam o espetáculo esculpido
Por algum infeliz que foi “o” escolhido
Mais cedo ou mais tarde ele será esquecido
Magos intrusos atormentam ainda mais os mais reclusos
Odores na arena, em disposição de um ato
Procurando algum fato na cena
Que o torne livre dessa pena
Tudo é podre e belo, tudo é serpente e cor
E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...
Na arena lilás tudo se purifica
E num momento qualquer o pierrô se edifica
No palco ele se torna maléfico
Na arena o público se enfurece
De repente a vida vira algo fútil
O primeiro corpo cai, a arma no bolso se torna útil
Aqui só há uma saída, temos que revelar
A chacina já começou, só nos resta rezar
Umedecer a figura, sem desejar nenhum pano
É nesse ato que o ser humano se torna tirano
Desdenhado espaço, a alegria do palhaço
Vira tristeza de um descompasso
Ouve-se um estardalhaço
Gargantas explodem, o sangue escorre
O corvo pousa, a carniça ele quer
O pierrô repousa, a carnificina ele requer
O ato em cena se finaliza
A carnificina se concretiza
Facas, AKs, berettas, M-16, granadas e glocks deram o som
Gritos, gemidos, murmúrios, choros, uivos e berros ritmizaram o tom
Morte total, fascínio parcial
Suas chagas agora, fibriladas e sadias, sem nenhum doente
Deixam o corte pra ser bebido eternamente
E quando eu for, bola pra frente, não se lembre da dor
Anime-se e levante a cabeça e, por favor, nunca se esqueça
Nós somos infinitos...
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